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06 Jun 2023
ALFABETIZAÇÃO

Você sabe o que é analfabetismo funcional?

Segundo dados do INAF, o Indicado de Alfabetismo Funcional, apenas 12% da população brasileira é considerada proficiente, ou seja, plenamente alfabetizada.

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Nínive Daniela Guimarães Pignatari

Segundo dados do Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF), concluído em 2018, 71% da população brasileira pode ser considerada funcionalmente alfabetizada, ou seja, se encontra nos níveis elementar, intermediário e proficiente de alfabetização. O restante (29%) da população se enquadra nos índices de analfabetismo funcional abrangendo os níveis de Analfabetismo (total) ou Alfabetismo Rudimentar. A maioria das pessoas desse grupo está no nível Rudimentar de alfabetização, ou seja, são capazes de lidar apenas com textos curtos, como bilhetes e anúncios, mas não entendem um texto didático, um artigo científico ou uma notícia, por exemplo.
Os 71% funcionalmente alfabetizados são os que se encontram nos níveis elementar, intermediário e proficiente.

Chama a atenção que a proporção de alfabetizados em nível proficiente permaneça estagnada desde o início da série histórica em 12%, ou seja, estão nesse patamar apenas cerca de 17,4 milhões dos 144,7 milhões de brasileiros entre 15 e 64 anos. Veja gráfico ao lado.

 

Quem é considerado proficiente?

Segundo o INAF, considera-se proficiente quanto ao letramento (plenamente letrado) o aluno que:

  • Elabora textos de maior complexidade (mensagem, descrição, exposição ou argumentação) com base em elementos de um contexto dado e opina sobre o posicionamento ou estilo do autor do texto.
  • Interpreta tabelas e gráficos envolvendo mais de duas variáveis, compreendendo elementos que caracterizam certos modos de representação de informação quantitativa (escolha do intervalo, escala, sistema de medidas ou padrões de comparação) reconhecendo efeitos de sentido (ênfases, distorções, tendências, projeções).
  • Resolve situações-problema relativas a tarefas de contextos diversos que envolvem etapas de planejamento, controle e elaboração exigindo a retomada de resultados parciais e o uso de inferências.

 

Alfabetismo e escolaridade

Sete em cada dez pessoas que cursaram os anos iniciais do Ensino Fundamental permanecem na condição de analfabetismo funcional

A escolaridade é o principal indutor da elevação do nível de alfabetismo. Mesmo assim, o INAF mostra que há um grande número de pessoas que não conseguem chegar ao alfabetismo pleno, completamente consolidado, mesmo tendo maior escolaridade.

Sete em cada dez pessoas que cursaram os anos iniciais do Ensino Fundamental permanecem na condição de analfabetismo funcional e 21% chegam apenas ao nível elementar. É interessante observar que apenas 9% dos brasileiros entre 15 e 64 anos que concluíram os quatro primeiros anos do Fundamental têm alfabetismo consolidado.

Entre as pessoas classificadas pela escala INAF no nível elementar, quase a metade (49%) chegou ao Ensino Médio ou concluiu essa etapa e 13% cursam ou cursaram a Educação Superior.


Pós-Pandemia

Segundo a ONG Todos Pela Educação, o número de crianças entre 6 e 7 anos que não sabia ler ou escrever saltou de 1,429 milhão em 2019 (o equivalente a 25,1% das crianças brasileiras nessa faixa etária) para 2,367 milhões (40,8% das crianças) em 2021. O aumento é de 65,6% em comparação com os números de 2019.

A queda vertiginosa na alfabetização foi decorrente da pandemia de Covid-19, que causou a suspensão de aulas presenciais. Os números, mais uma vez, evidenciam as desigualdades que já existiam antes da pandemia.

 

Como acontece a alfabetização que visa letrar plenamente?

Para superar o analfabetismo funcional, um problema multifatorial, várias ações são necessárias, incluindo a mobilização de políticas públicas e ações sobre a formação de professores e iniciativas da sociedade civil. No que concerne ao processo de alfabetização, os estudos sobre o letramento indicam alguns caminhos. 

Dissociar alfabetização e letramento é impensável diante das atuais concepções psicológicas, linguísticas e psicolinguísticas de leitura e escrita. 

A entrada da criança no mundo da escrita ocorre simultaneamente pela aquisição do sistema convencional de escrita, a alfabetização; e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, o letramento.  

 

A alfabetização que visa letrar se apoia nos mais variados suportes e gêneros textuais e enfatiza a leitura e a escrita como práticas sociais. 

Aqueles que somente leem ou escrevem sem dar sentido à leitura ou à escrita são os chamados analfabetos funcionais, capazes de apenas decifrar o alfabeto. Para alfabetizar de modo pleno, letrando é preciso articular as dimensões técnica e sociocultural do aprendizado da escrita. Não basta saber ler, mas é imprescindível que os usos escolares da língua escrita se vinculem aos usos e funções dela na sociedade. 

Isso significa ensinar a partir de diferentes suportes textuais, modalidades e gêneros diversos, associando a leitura do texto escrito ao imagético, aplicando o texto para resolver problemas e produzir outros discursos significativos e corriqueiros no universo da criança, como convites, lista de compra, bilhete, cartaz, cardápio, carta, tirinhas etc.

Desse modo, o termo plenamente alfabetizado inclui a capacidade de ler, escrever e também interpretar, aplicar e analisar textos. É letrado o aluno competente para compreender como um discurso foi elaborado, identificar as intenções do autor e criticar considerando o contexto.  

 

Referências
Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF). Disponível em: < https://alfabetismofuncional.org.br/ >. Acesso em 01/06/2023